quinta-feira, 25 de julho de 2013

Lágrimas

Quando eu era criança, achava que só poderíamos chorar por dor física. Vou apanhar da minha mãe, então vou chorar, caí da bicicleta, então vou chorar, prendí o dedo na porta, vou chorar. Lembro - me de certa vez ter ido à casa de uma prima minha que tinha na faixa de uns 15 anos na época, enquanto eu deveria ter , no máximo, 7. Um dos nossos primos havia pego o diário dela e se trancado no banheiro e ela chorava de soluçar no quarto. Eu perguntava: Ele te bateu, te machucou? E ela dizia que não, mas que havia pego o seu diário. Eu não entendia porque ela chorava tanto se não estava machucada. Bastou um ano passar para eu entender o que seriam lágrimas de verdade. Dessas que doem por dentro e não param de doer mesmo depois de secarem no rosto.

Eu vejo direto no facebook várias pessoas falando sobre a sua infância e que não existia bullying e blábláblá... O que eu tenho a dizer é: Nossa, parabéns! Que bom que você não sofreu como eu. Porque eu tenho 25 anos e na minha época existia bullying, sim. E isso arrancou boa parte da minha infância. Não era na escola como acontece com a maioria das crianças, mas era na minha própria família e no condomínio em que crescí e vivo até hoje.

Por que eu tô falando sobre isso em um blog direcionado ao público feminino? Porque se a minha mãe tivesse uma outra mentalidade na época, não deixaria metade das coisas que aconteceram comigo destruir boa parte da minha infância. Não a culpo, ela era mãe solteira, tinha que trabalhar em período integral, não podia parar 1h do seu dia para examinar o comportamento dos seus filhos, vê o que tinha de errado. Ela também não tinha conhecimento sobre bullying, sempre foi influente desde criança, meu avô era um homem muito importante.

A partir dos meus 8 anos até os 15 eu ouvia: Você é feia; você não parece com a sua mãe e o seu irmão pois eles são bonitos e você é feia; você não vai casar, ninguém vai te querer; feia, gorda, feia, feia, feia. Isso pode parecer besteira, mas para uma criança de 8 anos que ouve quase todos os dias de pessoas diferentes, sejam elas adultos ou crianças durante anos a fio... Pode causar um estrago!

Hoje eu olho para as crianças e adolescentes desta geração e vejo que eles sofrem ainda mais do que eu sofrí na minha infância. O bullying deles é mais cruel, pois é imposto a meninas de 9, 10 anos uma beleza padrão "Disney Channel e Nickelodeon". Elas querem ser magras como a Hanna Montana, ter o cabelo da Selena Gomez e os traços da Carly. Para estas crianças não basta ser bonita, elas tem que ser perfeitas.

Deus colocou no meu caminho algumas mulheres para eu cuidar. Umas vieram pelo blog, outras pela vida, mas dentre estas estão algumas meninas de 13 a 15 anos. Não tenho vergonha em dizer que, pra mim, é muito difícil ajudá-las. Posso ver que a cada geração que surge, esses padrões "exigidos" pelos grupos sociais vão se tornando mais difíceis de se alcançar, deixando grandes frustrações em pessoas que ainda nem começaram a viver.

O bullying existe e sempre existiu. José, filho de Jacó, sofria bullying dos irmãos. O bullying não está só nas escolas, mas na TV, no nosso ambiente de trabalho e até mesmo nas igrejas. Façamos a nossa parte como Mulheres Descoladas e passemos adiante valores que realmente importam, principalmente aos "pequenos". A carga que lhes é imposta é muito pesada e se não os olharmos como vítimas da nossa geração, a próxima geração será vítima das imposições deles.

Esta sociedade vive de aparências, é disso que ela se alimenta. Se não lhe dermos mais o que comer, uma hora ela morre de fome.